vivendo o passado

PINÓQUIOS 2001 (recordações que ficam para a posteridade)

Não dá para descrever um campo em cem palavras. Nem mesmo em cem linhas. Um campo não dá para escrever, simplesmente. Se calhar é por isso que, infelizmente, com o passar dos anos se vai esquecendo. Cada ano surge mais um, e os antigos vão-se perdendo (o que será dos Beatos?!).
Felizmente, não sou assim tão velha, e se experimentar recordar o meu primeiro campo (exercício que tenho frequentemente) lembram-se-me slides, sequências incompletas de acontecimentos, mas ainda assim, recordações.

Quando penso nos Olhos de Água, lembro-me do portão e do caminho que serpenteava pelo arvoredo até ao sítio do campo propriamente dito. No primeiro dia, os animadores apresentaram-se mascarados dos Quatro Elementos. Lembro-me bem do campo arado onde se camuflava um certo rapaz, coberto de lama da cabeça aos pés – estes mocamfinos são loucos! À noite, fizeram um dos poucos serões em que eu não adormeci – “O que faz falta é Mariana Malta, o que faz falta!”
Havia um pântano. Segundo nos disseram os animadores, lá vivia um monstro que comia qualquer um que se aproximasse demasiado… fizemos um teatro acerca disso. Havia também umas escadas que levavam à entrada de um casarão abandonado, e para mim essa escadaria era, na altura, gigantesca. Seria?

Lembro-me da caminhada, e de quando fomos visitar um castelo. Sentámo-nos no chão empedrado e houve uma brincadeira qualquer com a Joana, o Ruca e a casa de banho… Não me lembro do caminho, do andamento, só me lembro da chegada, daquela enorme piscina fluvial cheia de lodo, coisa que eu detestava, por isso tomei banhos de sol. Os pães com salsicha e ovos mexidos chegaram e comemos, cheios de apetite… hum que delícia! Depois conversámos, numa grande rodinha. (O chão era de empedrado branco, portanto não houve pauzinhos para partir ou, no meu caso, terra para esfregar nas pernas!)

Aprendi imenso nesse campo; o aplauso do FI! … INIMINIKATHIMINI UAHÁBALINI AKARAKA UKARAKA AKARAKA YO! foi sem dúvida uma grande conquista. E numa noite, estava eu sentada ao lado da Teresinha Madeira, a contar-lhe histórias de suspanse – ela estava aterrorizada! – em que nos serviram “uma surpresa”... Engraçado que essa foi a primeira vez que comi Baba de Camelo (coisa que não voltei a provar até há dois meses atrás, numa festa de anos, em que tanto insistiram que consegui, finalmente, superar o trauma!)

Lembro-me de alguns trabalhos de grupo: um teatro interactivo com uma máquina de aumentar (demos um banho à Mariana Malta!) e uma actividade com fantoches feitos de lixo (o meu tucano ainda está bem guardadinho, junto com uma panóplia de recordações que vou juntando, ano a ano, caixa a caixa).

Lembro-me dos banhos, cá em baixo (ainda que champô usei), e de uma vez em que lavámos a loiça à noite (sim, ainda sou desse tempo!) – o Guigas tinha um buraco nas sapatilhas e por isso ficou com os pés encharcados! Também me lembro de ficar EU com os calções encharcados, não de água, infelizmente, numa das primeiras vezes em que me aventurei na latrina… E, se a memória não me falha, foi o único campo que eu fiz em que houve verdadeiros Fogos de Campo! Os petromaxes são invenções modernas, pessoal…
Foi também o único campo em que tivemos uma celebração no Domingo. Foi uma manhã linda, escondida no verde das árvores do outro lado do pântano, o tronco cortado que serviu de altar, as ofertas e os agradecimentos, o bonito tributo que fizemos ao Hélder…

Mas o que mais se destacou naquele campo de Pinóquios, para mim, foi ter conhecido o Zé Maria. Tiveste sorte, pá, por eu ser ainda tão inexperiente que nem desconfiei das tuas cartinhas – um amigo secreto com uma letra tão trapalhona não poderia ser, de modo algum, um animador!
Um dia de manhã, quando fui à tenda mamã buscar o meu chapéu, e me deparei contigo e com a Patrício a dormir… bolas apanhei cá um susto! E depois do susto, meu, foste gozado! E depois temos aquele episódio que ficou para a História, na noite dos Óscares: aquele tabuleiro com terra e velas que me pareciam, ao entreabrir os olhos, dois copos com chá… “Não quero chá, Zé Maria, obrigado!”
Secreto ou não, tornaste-te um grande amigo. Lembro-me do tempo que passaste comigo, ao lado na rodinha, de estares sempre a chatear-me com a conversa do Guigas… Para uma criança ainda na idade do egocentrismo, muita gente passa e não fica: de todas as fenomenais pessoas e caras que fizeram aquele campo, só uma ou duas dezenas me ficaram na memória. Mas alguém como tu já mais passaria despercebido!

E contando pelos dedos, já foi há oito anos. Oito anos?!?! Impressionante…