06 dezembro 2016

Confiar


A confiança perde-se quando somos apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se engana.
A confiança é um bem tão etéreo que não pode ser recuperado. Só pode ser conquistada e perdida. A confiança leva tempo a conquistar porque o coração que confia é um coração aberto, sem defesas, que pode ser destruído num instante pela mais pequena traição. O nosso tempo não é de confianças porque é um tempo egocêntrico e sensacionalista em que cada um só fala de si e das coisas que sente. Ouço dizer que A ama B, que A está apaixonada por B, que A acha que o amor dela é correspondido. Mas A confia em B? A diz que não. E ri-se, ainda por cima.
Confiar em alguém e saber que essa pessoa confia em nós, poder contar com ela e saber que ela, com razão, pode contar connosco, está para a amizade e para o amor como a segurança está para a paz. Não há quem não saiba conquistar a confiança de alguém. É muito fácil. Basta ser verdadeiro, ser leal e ser inabalável. Basta ter a coragem de admitir o que toda a gente sabe: que ninguém é perfeito e que a única perfeição que está ao nosso alcance é a consistência.
Não há nenhuma grande entrega. Uma pessoa apenas tem se dar a conhecer. Tem de ser com honestidade. Não somos obrigados a confessar os nossos defeitos mas quando somos apanhados a mostrar um deles temos de sorrir e pedir desculpa por ser assim. A confiança perde-se quando somos apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se engana. A pessoa que engana é a pessoa que deixa de querer a confiança de quem enganou. E é essa indiferença que mais magoa a pessoa enganada.

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