A confiança perde-se quando somos apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se engana.
A confiança é um bem tão etéreo que não pode ser recuperado. Só pode
ser conquistada e perdida. A confiança leva tempo a conquistar porque o
coração que confia é um coração aberto, sem defesas, que pode ser
destruído num instante pela mais pequena traição.
O nosso tempo não é de confianças porque é um tempo egocêntrico e
sensacionalista em que cada um só fala de si e das coisas que sente.
Ouço dizer que A ama B, que A está apaixonada por B, que A acha que o
amor dela é correspondido. Mas A confia em B? A diz que não. E ri-se,
ainda por cima.
Confiar em alguém e saber que essa pessoa confia
em nós, poder contar com ela e saber que ela, com razão, pode contar
connosco, está para a amizade e para o amor como a segurança está para a
paz. Não há quem não saiba conquistar a confiança de alguém. É muito
fácil. Basta ser verdadeiro, ser leal e ser inabalável. Basta ter a
coragem de admitir o que toda a gente sabe: que ninguém é perfeito e que
a única perfeição que está ao nosso alcance é a consistência.
Não há nenhuma grande entrega. Uma pessoa apenas tem se dar a
conhecer. Tem de ser com honestidade. Não somos obrigados a confessar os
nossos defeitos mas quando somos apanhados a mostrar um deles temos de
sorrir e pedir desculpa por ser assim. A confiança perde-se quando somos
apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se
engana. A pessoa que engana é a pessoa que deixa de querer a confiança
de quem enganou. E é essa indiferença que mais magoa a pessoa enganada.
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