31 dezembro 2016

agarra a vida!!!




São repetitivas estas temporadas: natal e passagem de ano!?

Talvez sejam todos os anos iguais;

Talvez seja complicado ser original;

Talvez não saber como vai ser o futuro seja o mais previsível no meio da imprevisibilidade humana: gosto disso, gosto de segredos;

Talvez haja muitas maneiras de pintar a vida, dançá-la, colocá-la em teatro, musicá-la, esculpi-la, escrevê-la, cinematografá-la, torná-la arte.

E  tacteá-la, ouvi-la, cheirá-la, vê-la, saboreá-las: senti-la.

Talvez, sejam necessários estes momentos para recordar de vez em quando que a vida  tem de ser agarrada: 2016 despede-se com encanto, 2017 traz boas perpectivas!




Poesia da esperança

Cada dia algo de bom existia.

Andar e falar podiam ser entendidos como bens comuns ou dádivas únicas especiais.

Comum é a sociedade,

Comum porque vivemos em comunidade,

E  assim está escrito na História Que vivemos melhor.

Existir, comer e dormir feito sem empenho não interessa ou não andamos cá para isso!

A nossa única vida é um privilégio e não um direito.

Olhar para tudo como quem sabe ser imperfeito e estar incompleto. 

Acreditar que podemos ser melhores hoje, agora e sempre.

28 dezembro 2016

Eu vi 2017, e vai ser só homens (Rui Tavares)

São a maioria deste mundo e quem mais trabalha para o bem geral... (comentário meu)

Digam comigo: queremos mais opiniões de mulheres no debate público português e de jovens e minorias.
De todas as previsões para o próximo ano, aquela em que tenho menos medo de errar é na seguinte: no próximo ano vamos passar muito tempo em salas de conferência, estúdios de televisão e páginas de publicações discutindo o futuro de Portugal, da Europa e do mundo, e vamos ser quase sempre só homens brancos de meia-idade ou mais velhos. Quem reclamar vai ser considerado irritante.
Os debates serão longos, chatos e sem novidade. Um dos homens de meia-idade suspirará pelo tempo em que não havia euro, outro pelo tempo em que não havia UE, e uma das perguntas do público será de um homem com saudades do tempo em que não havia imigração. A época por que se suspira será determinada pelo conteúdo dos livros que o homem em causa terá lido quando estava na licenciatura. A prioridade será regressar à normalidade que neles era descrita para que o homem possa explicar as receitas e soluções que já conhece de cor.

Os debates avançarão pouco. E o debate sobre os debates avançará muito pouco. A ninguém passará pela cabeça que uma composição diferente dos painéis — com mais mulheres, mais jovens e até, sacrilégio!, mais minorias — dará resultados mais interessantes. Ninguém dará muita consideração ao argumento de que experiências pessoais diferentes trarão consigo ideias diferentes, e que essa diversidade é proveitosa para a comunidade. Argumentos desses serão considerados picuinhas, estrangeirados e “politicamente corretos”. Se uma mulher os usar, dir-se-lhe-à primeiro que tem razão e que aquela infelicidade será corrigida com o tempo, mas à segunda vez lançar-se-lhe-à um olhar que dirá “por que és tão chata, sua feminista impenitente?”. Se um homem se queixar, faça-se de conta que ele não disse nada; à segunda, diga-se-lhe que poderá ele então ceder o seu lugar a uma mulher. O objetivo é ter painéis de homens que não se queixem por estarem em painéis só de homens e, de preferência, que nem sequer reparem que o painel só tem homens.

Gostaria muitíssimo de me enganar. Gostaria que os organizadores de tanta reflexão tomassem a diversidade e a representatividade como resoluções de Ano Novo. Conheço todas as desculpas em contrário. Sei que o trabalho de organização é ingrato, mal pago (na melhor das hipóteses) e feito às pressas. Mas há remédios. Organizem atempadamente uma lista de possíveis oradoras e peçam às mesmas para contribuir com mais nomes. Liguem às pessoas de minorias que conhecem e peçam-lhes ajuda (é desconfortável para ambos os lados? possivelmente, mas não mais do que nunca ser ouvido ou nunca estar representado). Sei que as direções das fundações, das revistas e das associações cívicas continuarão a ter uma grande dificuldade em escolher mulheres para os debates, entre outras razões porque têm pouquíssimas mulheres entre os seus membros. Alterem os estatutos para adicionar uma missão geral de promover a diversidade nas vossas actividades correntes e, já agora, a obrigatoriedade de incluir mais mulheres nos órgãos. Não se arrependerão.

(Antes que perguntem: sim, sei que apareci ontem num cabeçalho deste jornal rodeado só por homens, e que participo num programa de televisão só com homens. Mas protesto sempre e, nas ocasiões em que tive poder de decisão, fiz tudo o que está descrito no parágrafo anterior. O resultado não foi só melhor em justiça, mas também em qualidade, eficácia e aprendizagem.)

Sei que a envolvente não ajuda. Os jornais, rádios e televisões não costumam dar o exemplo. 

Também aqui os editores e directores podem avançar com uma resolução de Ano Novo. Digam comigo: queremos mais opiniões de mulheres no debate público português, e já agora de jovens e minorias também. Comuniquem essa decisão à vossa assistente ou secretária (já repararam que é provavelmente uma mulher?), estabeleçam uma meta, aprovem-na com quem tiver de ser, e cumpram-na em 2017. Se mais nenhum argumento vos convencer, ao menos que seja este: ajudem-me a falhar numa previsão.


26 dezembro 2016

se fosse fácil não tinha piada


Querida morte,

Tornou-se um hábito falar mal de ti mas tu é que tornas a vida apetecível: se nunca acabasse, se fosse imortal era chato. 

És um mal necessário... 

Claro, que podíamos fazer de ti e dos cemitérios salões de festas com muitas flores, muita gente, muitas mensagens... e fazemos mas falta música.

Chegar a ti, morte, deve ser um consagrar a vida conseguida/ultrapassada como quando chegamos ao fim de um trajecto nos congratulamos pela meta ultrapassada.
 
Ir ganhando vida e depois perdendo qualidades e capacidades torna o jogo divertido.

Tu és o 'há males que vêm por bem' no seu sentido melhor, mais perfeito!

Se não existisses viver tornava-se banal e a vida deve ser encarada não é como um direito mas é um privilégio.

25 dezembro 2016

BOM NATAL!

Não é preciso muito para viver bem:

- uma roupinha velha;

- um colchão;

- uma mantinha;

- umas latas de atum e salsichas conservado;

- um tintol;

- uma cabana perto do mar com vista para se te apetecer saltar lá do alto quando estiveres desesperado;

- tem que ter WC com chuveiro e um sabão azul;

- tens que ter um trabalho para te sentires útil;

Pouca coisa né!?

Se fosse fácil o jogo da vida não achávamos piada e temos que ter alguma exigência com ele porque afinal, a vida é o melhor que nós temos!

Ninguém me ouviu escrever que eu conseguia viver com pouco pois não!?


A verdade é que é um exercício giro de fazer: do que prescindiriam!?


Das coisas em que primeiro penso que me faria falta, antes do conforto e da saúde, era no Amor.

O amor dos pais;

Da/o companheira/o;

Da família, de vocês!

Das/os Amigas/os;

O AMOR FAZ FALTA, PORRA!

22 dezembro 2016

o tempo, a morte e o amor



Lion - A longa viagem para casa (Rooney Mara | Nicole Kidman | Dev Patel)

baseado numa história real incrível este filme é Natal!

muito bom, muito bonito e a sensação que há muito mundo a viver e vidas a percorrer.

A impotência é o contrário da democracia: 21 de Dezembro de 2016,


Tudo à nossa volta nos ajuda a celebrar o Natal mas nada nos ajuda a salvar as crianças de Alepo.
Alimentamo-nos de ideias e de sentimentos. Também precisamos de pão, mas não é o pão que nos faz querer viver amanhã. Quando nos perguntamos o que desejamos para os nossos filhos não pensamos nas coisas materiais. Não porque não sejam necessárias mas porque as sabemos insuficientes, porque sabemos que não chegam para viver, mesmo que cheguem para sobreviver. Pedimos que sejam felizes.
Podemos gostar do Natal por razões materiais, porque há ceia e férias e festa e presentes e decorações nas ruas, mas a principal razão por que gostamos do Natal é porque quando ouvimos “Paz na terra aos homens de boa vontade” queremos participar dessa festa. Sentimos que pertencemos a esse grupo de homens e mulheres de boa vontade e sentimos que podemos tornar o mundo melhor, nem que seja só um bocadinho, nem que seja só por um momento, nem que seja só aqui à nossa volta. E gostamos dessa sensação. Gostamos dessa ideia de Natal, que extravasa a fronteira do cristianismo e que nem precisa do “Glória a Deus nas alturas”. Por uns dias, no meio do frenesim das compras e dos preparativos para as festas, sentimo-nos um pouco mais próximos uns dos outros, porque alguém inventou um dia que esta era a festa da paz e da entreajuda. E assumimos um pouco dessa responsabilidade. Tentamos fazer coisas próprias dos homens e das mulheres de boa vontade, um bocadinho mais do que nos outros dias do ano. Fazemos mais donativos, damos mais esmolas, assinamos mais petições de causas humanitárias, tentamos ser menos gananciosos e menos agressivos, mais disponíveis. Às vezes oferecemo-nos para fazer trabalho voluntário. Às vezes até sorrimos para pessoas que não conhecemos. É sincero? Em parte é, ainda que também seja mentira.
Mas, se gostamos de nos sentir bem a propósito de nós próprios, se tentamos de alguma forma fazer o bem e ajudar o próximo, se gostamos do Natal porque tem um perfume disso mesmo, como é que suportámos todos estes anos o massacre da cidade de Alepo, com os seus cem mil mortos, entre os quais muitos milhares de civis, entre os quais muitos milhares de crianças? Como é que suportámos isto, apenas com um ou outro tweet a servir-nos de compensação, com uma ou outra assinatura numa petição, às vezes com uma participação numa manifestação raquítica a pedir justiça e paz para aquelas pessoas encurraladas numa guerra que não escolheram?

A resposta é a mesma que todos nos dão quando perguntamos o que podemos fazer para ajudar Alepo, para ajudar todas aquelas crianças de caras inexpressivas que já nem choram (o que poderá ser pior que uma criança que já se habituou a sofrer?). O que podemos fazer por todos os outros Alepos, além dos tweets e das petições e das manifestações? Nada. Tudo à nossa volta nos ajuda a celebrar o Natal mas nada nos ajuda a salvar as crianças de Alepo.

A triste verdade é que as democracias de baixa intensidade em que vivemos não possuem mecanismos que nos permitam a nós, ao povo soberano, exigir uma acção determinada mesmo quando se trata de urgências humanitárias. Pedem-nos que esperemos e confiemos nos poderes, mesmo quando estes estão ausentes ou são cúmplices dos crimes. O poder soberano que detemos não possui qualquer canal através do qual se possa exercer para salvar Alepos. Essa impotência que sentimos é o contrário da democracia. Essa impotência diz-nos que nenhum poder efectivo reside no povo. Uma das grandes tarefas à nossa frente é impedir que a democracia se transforme para sempre no regime da impotência dos homens e das mulheres de boa vontade.

19 dezembro 2016

O que é gostar de alguém?, perguntou-me ele

Gosto muito de pessoas e quero ver se namoro mais com a humanidade: se bem que não gosto de toda a gente... a humanidade é muita gente: gosto de manter as minhas amizades intímas;)

Nem percebi a armadilha que me fizeste: essa frase é de quem domina muito bem este assunto, é de jovem vivaço!!!

De facto, nunca fui tímido e sempre fui um galdério!

Quando tive um acidente apareceu toda a gente, até o grupo de sueca da secundária apareceu (que nunca tive...), ia morrer...

É um belo desafio este que me fazes: é uma rica dúvida, há tantas formas de gostar e de não gostar de alguém: há gente mais afectuosa, mais distante, mais isolada, retraída, mais social e do grupo.

Tantas quantas pessoas e situações, lugares, sentires, pensares, tantas...

Gostar é irracional: não se explica porque se gosta da maior parte das pessoas, gosta-se e pronto!

Tenho uma dívida enorme com as pessoas com quem vivo e convivo: pais, tios, família, amigos, conhecidos, etc.

Nunca tive medo de viver com pessoas: é sempre uma troca, eu vou tentar ser o melhor que sei e eles também... é como um jogo (talvez não pense sempre nisto mas...) onde ninguém sabe mais que nós: a vida! 

Normalmente, estou com gente a fazer qualquer coisa, a estar por exemplo... ;)

É sensorial, algo energético que passa pelo sentimento, pelo choro e pelo riso.

Conversa-se pouco, trocamos poucas ideias com o outro... tenho dificuldade em responder a uma pergunta tão simples como esta 'O que é gostar de alguém?'...

Eu gostar de outro (alguém) porquê ou porque não?

Temos muito a ganhar em tratar bem os outros, criarmos Amigos, tratarmos bem porque queremos ser bem tratados.

Gostar é egoísta: gostamos do que nos sabe bem, comida, música, espaço, conversa, filmes partilhados, de crianças, de velhotes, de gente nova, curiosa, de Pessoas a sério (conceito muito diminuto), sei lá.

Gostar diz bem de quem és e como estás (cansado, com fome, alegre, filosófico, à vontade, descontraído); tem alguma exigência gostar, não se gosta de toda a gente, gostar de ti implica dar de mim e não é para toda a gente ser meu amigo (mas é quase, não sou tão tuff assim, com uma ou duas conversas estamos com os copos abraçados a fazer grandes reverências ao Ser Humano e à Vida...), tens que ter alguma qualidade.

18 dezembro 2016

Peço desculpa, contive-me

Ricardo Araújo Pereira
Boca do Inferno
Ricardo Araújo Pereira

Portugal merece que os seus deputados encontrem um meio-termo entre o que volta e meia acontece no parlamento de Taiwan e o que esta semana sucedeu no nosso: um modelo de discussão rija sem ser selvagem e cordata sem ser mariconça
João Fazenda
Segundo diz aquele grupo de nostálgicos para os quais antigamente é que era bom, vivemos hoje uma profunda crise de valores. Depois de ter visto o incidente do debate entre Mourinho Félix e Leitão Amaro, sinto-me tentado a concordar. Já tive ocasião de lamentar aqui a aflitiva pobreza dos insultos na política portuguesa contemporânea, mas creio que esta semana teremos atingido um novo mínimo. O melhor que o secretário de Estado conseguiu foi dizer que o deputado do PSD revelava, e cito, "uma disfuncionalidade cognitiva temporária". Trata-se, possivelmente, do insulto mais pífio da história dos vitupérios.

É uma ofensa vergonhosa, que faz os possíveis para não magoar. "Disfuncionalidade cognitiva" é uma construção que significa burro, mas já se sabe como as perífrases retiram agressividade a uma ideia. Esta, além do mais, através da palavra "disfuncionalidade", sugere e existência de uma patologia, da qual o insultado não tem culpa. E a necessidade de salientar que se trata de uma condição "temporária" é mais um paninho quente que contribui para embolar a injúria, de modo a que ela acabe por não injuriar. No máximo, o que Mourinho Félix conseguiu foi insinuar que Leitão Amaro estava armado em parvo. É pouco.

O PSD, por outro lado, esteve bem quando reagiu com indignação, mas mal quando dirigiu a indignação para o sítio errado. A bancada social-democrata exigiu que o secretário de Estado se retractasse, mas devia ter exigido que o governante formulasse um insulto sério e competente.

"Com que delicada flor pensa Vossa Excelência estar a debater?", deviam ter perguntado os sociais-democratas.

"Faça o favor de dirigir ao nosso companheiro uma afronta que vilipendie como deve ser", teriam acrescentado se ainda houvesse honra no parlamento. Em vez disso, segundo a SIC Notícias, que cronometrou o castigo, os deputados do PSD impediram que o secretário de Estado falasse durante quatro minutos e 47 segundos. Nem o progenitor mais leniente alguma vez disse ao seu filho: "Como o menino se portou mal, vai ficar quatro minutos e 47 segundos sem ver televisão." É uma pena ridícula que se ajusta a um delito patético isso é certo. Mas que empenho pode o povo esperar dos seus representantes quando as legítimas divergências democráticas, em lugar de lhes fazerem ferver o sangue, lhes põem a circular nas veias uma cabidela morna e pastelona, incapaz de produzir uma irritação que se apresente? Portugal merece que os seus deputados encontrem um meio-termo entre o que volta e meia acontece no parlamento de Taiwan e o que esta semana sucedeu no nosso: um modelo de discussão rija sem ser selvagem e cordata sem ser mariconça. Normalmente, as pessoas desculpam-se dizendo: "Excedi-me." O sr. secretário de Estado devia ter a decência de nos dizer a todos: "Peço desculpa, contive-me."

Sobre Literatura

Tiago Bettencourt
Tiago Bettencourt

Este prémio de Dylan tem que ser um incentivo para todos nós. Não só para quem decidir compor uma canção ou cantá-la, mas também para quem a escolhe ao ouvir 

A força de Patti Smith vem de dentro. Goste-se ou não, quem já a leu, sabe que lhe é característica uma doce honestidade que transparece para a sua forma de dizer e de cantar, fruto de uma vida inteira dedicada à arte. Foi desse lugar transparente onde raros artistas sabem estar que Patti homenageou Bob Dylan na cerimónia do Prémio Nobel. Tive que me esforçar para conseguir encontrar a atuação integral, uma vez que para a imprensa teve mais interesse um engano da artista do que o poder do que ali realmente se passou. Sentei-me, pus os auscultadores, e ouvi.

A sua voz maternal ao lado do aço da uma guitarra Dylanesca: "Oh, where have you been, my blue-eyed son?/And where have you been my darling young one?". Existe esta arte de juntar palavras e criar mundos, e existe o dom de as saber dizer, transformando-as como quem acrescenta novas possibilidades para os mundos já escritos e descritos. De voz grossa e imperfeita "I've stumbled on the side of twelve misty mountains/I've walked and I've crawled on six crooked highways" e a viagem começa, tão atual como sermos humanos pelos caminhos tortuosos do nosso tempo. Aos poucos todos os que lá estavam perceberam, e eu também, que as palavras que Dylan canta em tom de desafio, Patti cantou em tom de agradecimento. Ao mesmo tempo que todas as imagens de Dylan ganhavam as cores da voz, da expressão do corpo de Patti Smith, existia em cada uma delas o abraço, o sorriso, e um obrigado pela divina possibilidade de olhar para o mundo através da poesia.

Eu não prestei grande atenção a toda esta polémica sobre o que é ou o que não é literatura. O meu grande encontro com a poesia foi também através do fado e por isso essa questão sempre foi óbvia para mim. Através do fado aprendi a dizer as palavras, a encaixá-las, a moldá-las e também a destruí-las nos sons. Aprendi com a Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Camané, Adriano Correia de Oliveira e José Afonso. Foi na música de artistas como Dylan, Cohen, Tom Waits, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Rui Veloso, e muitos mais, que aprendi as possibilidades do poema aliado à canção. Lembro-me que decidi fazer canções em que o poema existisse independente da música.

A ideia do poema sobreviver sozinho, não para tirar valor à música, mas para a música ser o filtro que serve a intenção do poema. A música foi a porta para eu me aproximar mais da poesia e me emaranhar mais profundamente na literatura, para me aprofundar, para me tornar mais sensível aos movimentos e cores à minha volta.

Para mim, este Nobel de Dylan vem relembrar o mundo desta grande descoberta que foi a Canção. Espero que nos relembre da importância de uma boa letra, de um bom poema. Espero que os artistas mais cegos e cada vez mais vazios do novo milénio ganhem ambição. Espero que percebam o tesouro que têm nas mãos, a ponte, a oportunidade. Espero que os fadistas se lembrem que têm que ser os principais representantes da melhor poesia cantada em Português, mantendo a fasquia alta em vez de a baixar para vender mais discos. Que deixem de pôr um fado com um poema de David Mourão Ferreira, ou Vasco Graça Moura ou Samuel Úria ao lado de uma qualquer canção ultrapop com um poema medíocre mas com um refrão orelhudo, mostrando total falta de critério, direção e responsabilidade. Sim, não é fácil escrever bem e chegar a toda a gente, mas é possível e Dylan é a prova. E não é bem mais valiosa a ideia desta entrega pelo melhor que podemos ser na arte? Sejamos ambiciosos então, porque este prémio de Dylan tem que ser um incentivo para todos nós. Não só para quem decidir compor uma canção ou cantá-la, mas também para quem a escolhe ao ouvir.

E de voz forte e calejada, Patti Smith sorrindo da sua própria entrega espelhada no poema do seu amigo: "And I'll stand on the ocean until I start sinkin'/But I'll know my song well before I start singing."

06 dezembro 2016

Confiar


A confiança perde-se quando somos apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se engana.
A confiança é um bem tão etéreo que não pode ser recuperado. Só pode ser conquistada e perdida. A confiança leva tempo a conquistar porque o coração que confia é um coração aberto, sem defesas, que pode ser destruído num instante pela mais pequena traição. O nosso tempo não é de confianças porque é um tempo egocêntrico e sensacionalista em que cada um só fala de si e das coisas que sente. Ouço dizer que A ama B, que A está apaixonada por B, que A acha que o amor dela é correspondido. Mas A confia em B? A diz que não. E ri-se, ainda por cima.
Confiar em alguém e saber que essa pessoa confia em nós, poder contar com ela e saber que ela, com razão, pode contar connosco, está para a amizade e para o amor como a segurança está para a paz. Não há quem não saiba conquistar a confiança de alguém. É muito fácil. Basta ser verdadeiro, ser leal e ser inabalável. Basta ter a coragem de admitir o que toda a gente sabe: que ninguém é perfeito e que a única perfeição que está ao nosso alcance é a consistência.
Não há nenhuma grande entrega. Uma pessoa apenas tem se dar a conhecer. Tem de ser com honestidade. Não somos obrigados a confessar os nossos defeitos mas quando somos apanhados a mostrar um deles temos de sorrir e pedir desculpa por ser assim. A confiança perde-se quando somos apanhados a enganar a outra pessoa? Não, é perdida no momento em que se engana. A pessoa que engana é a pessoa que deixa de querer a confiança de quem enganou. E é essa indiferença que mais magoa a pessoa enganada.

05 dezembro 2016

Rui Vitória, o condutor de homens



«Com Rui Vitória, todos são importantes» - Ederson
Um bom treinador deve pensar primeiro na equipa, formar um grupo coeso e onde todos puxam para o mesmo lado; deve ser muito altruísta, Ele é criador de bem estar e une o grupo

O sucesso do Benfica muito se deve à forma como o treinador conduz a equipa.

«Tem sido uma evolução muito positiva sob o comando do treinador. A equipa cresce a cada dia que passa. Uma coisa que fica clara com é que todos os jogadores são importantes para o grupo. Passa-nos confiança, sabendo que mesmo os que estão no banco podem entrar a qualquer momento e resolver o jogo. Isso é muito importante porque os jogadores sentem-se motivados para treinar e para jogar».

O treinador que só sabe de futebol, nem de Futebol sabe. (adaptação de uma frase de Abel Salazar sobre Medicina por um ex jogador da bola licenciado em Política Social)
«Tem sido importante para o nosso crescimento. A boa campanha que estamos a protagonizar nesta competição é fruto do nosso crescimento, e penso que podemos crescer ainda mais», rematou Ederson.

Querida Mãe

Entrevista a Eduardo Sá: "As mães têm sete sentidos"

O psicólogo tem um livro novo - "Querida Mãe" (Ed. Lua de Papel) - que, apesar da doçura do título, apela aos pais – e mães - para que assumam o seu papel. Diz que as crianças não são tão complexas que mereçam programas educativos e que não devemos viver para os filhos. Defende a brincadeira, a alegria, e o esforço. E também diz que o melhor do mundo continuam a ser… as mães.

- Este título é muito doce, mas depois o livro é um apelo à assertividade dos pais. As crianças estão mesmo a tornar-se chefes de família?

Sim. Tenho medo que os pais tenham crescido em famílias e escolas demasiado autoritárias, e na ânsia de não reproduzirem esse modelo acabam por lidar com a autoridade de forma estranha, como um tabu. Às vezes esquecem-se que a autoridade é um exercício de bondade. Quando os pais não exercem a sua autoridade simplesmente porque sabem mais, na ânsia de serem bons pais, acabam por se demitir da paternidade. E depois esquecem-se que a autoridade funciona como uma caixa de velocidades: é preciso regras, rotinas, atitudes ancoradas em reciprocidade. Deve haver um conjunto de regras, e as crianças podem por vezes não as cumprir. Mas demitindo-se do seu papel, os pais depois encontram nos filhos uma cópia refinada dos seus próprios pais.


- Diz uma coisa tão triste: “Os pais parecem presos aos mimos que imaginem não ter tido – e parecem ter vivido a infância deles tão sozinhos…” Isto é mesmo verdade’


Claro que é. Os nossos pais nunca foram perfeitos, e não é por isso que são menos merecedores de crédito. Mas também é verdade que, em muitos momentos, os nossos pais não foram capazes de pôr legendas em tudo aquilo que era indispensável para nós.


- Nós somos hoje melhores pais do que os nossos pais?


Infinitamente. Não tem comparação possível. Somos mais atentos, somos mais presentes, e se por vezes não conseguimos fazer tudo aquilo que queiramos ou da maneira que queríamos, tentamos com muita vontade. Mas tenho medo que em muitos momentos haja uma ideia muito cor de rosa da infância, que muitas pessoas consideram o paraíso perdido que nunca foi. A infância de muitos pais foi mais infeliz do que eles gostariam de admitir, e é normal que queiram ‘remendar’ nos filhos essas falhas. Eu não questiono por um minuto a generosidade que isto representa, mas tenho medo que pareçam gelatina Royal, que queiram ser pais sem dor.


- E não é possível ser pai sem dor?


Não. Ser pai ou mãe implica responsabilidade, implica perplexidade, implica muito contraditório.


- Diz que as regras não se explicam, não se negoceiam e não se justificam. Porquê?


Porque os pais acham que são as demonstrações quase matemáticas de uma regra que a tornam válida, e isso não é verdade. O que torna uma regra válida é que os pais exijam em função daquilo que fazem, o que muitas vezes não acontece. As explicações não resolvem tudo, precisamos de mostrar como se faz, o que torna tudo mais fácil.


- Porque é que os pais devem ter mais direitos que os filhos?


Porque ser pai é um estatuto. E as responsabilidades vêm equiparadas com direitos: quanto maiores as responsabilidades, maiores os direitos. E portanto, as crianças não devem dominar o comando da televisão, não devem dominar o fim-de-semana com as suas actividades e ocasiões sociais. Mas acho que às vezes os pais se queixam muito mas estão a ser um bocado batoteiros, apresentando os filhos como desculpa daquilo que não são capazes de construir com a pessoa que têm ao lado. É importante lembrar que os filhos são muito importantes, ajudam-nos a crescer como mais ninguém, mas a relação entre os pais é sempre mais importante que os filhos. Os pais, por melhores pessoas que sejam, precisam de ser felizes para serem bons pais. E quando põem os filhos à frente de tudo o resto, é uma maneira hábil de dizer ‘Já que eu não sou amado pela pessoa que tenho ao lado, ao menos que o meu filho me ame’.


- Tentamos compensar com os filhos o amor que não temos em casal?


Às vezes sim. Mas essa não é a função de um filho. Mal estaríamos.


- Também fala no livro sobre ensinar as crianças a não ter medo das dificuldades. Diz que encontrar uma paixão dá muito trabalho. Como é que, num mundo em que tudo é facilitado, se faz a apologia da dificuldade?


Estamos sempre a fazer publicidade enganosa, porque a única coisa verdadeiramente fácil é a estupidez. Tudo o que é verdadeiramente importante dá imenso trabalho. E às vezes não nos damos conta de tudo o que trabalhamos para que alguma coisa pareça fácil. Portanto, andamos a mentir às crianças e depois isso cria problemas. Percebo que as queiramos poupar a dificuldades, mas se as pouparmos a todas as dificuldades, estamos a limitá-las para o engenho de viver, estamos a torná-las frágeis e débeis.


- E para terminar, o que é que faz uma boa mãe?


(risos) Costumo dizer que as mães têm 7 sentidos: os cinco habituais, o sexto que é equipamento de base e que faz com que elas sejam capazes de traduzir por palavras coisas de que nem sequer nos tínhamos apercebido, e depois têm um sétimo, que não é bem um sentido, mas é uma espécie de sensor com que descobrem tudo aquilo que não era suposto que descobrissem. Depois têm um lado esganiçado, que é uma ternura, e fazem-nos cenas fantásticas do tipo ‘Qualquer dia saio desta casa e depois é que vocês vão sentir a minha falta’. Uma mãe é feita de tudo isto. Esta capacidade de serem de uma generosidade à prova de bala. Quando nós percebemos aquilo que se passa numa mãe quando ela dorme exausta e de repente o bebé abre um olho e ela acorda, percebemos tudo. Aquilo que faz uma boa mãe é este sorriso absolutamente transparente que faz com que uma pessoa, diante disso, se sinta Deus com os olhos dela.


- Isso é demasiado poético para algumas mães que eu conheço, mas pronto, vamos aceitar.

(risos) Olhe que a grande maioria das mães são assim. No meio do cansaço, dos desafios, das dificuldades, dos contratempos, das exigências, acho absolutamente fantástico que consigam ser como são. Porque ser mãe não é fácil.

 

Valores que vencem

O primeiro valor que vence é Rui Tavares porque tudo o que escreve aponta a um futuro melhor, mais bonito: este é um olhar de 'como será' a vida das próximas gerações. Estava para colocar apenas o texto de hoje n'O Público mas encontrei esta biografia e achei piada à humildade muito dele...

Rui Tavares: Nasci em 1972, em Lisboa, passei parte da minha infância numa aldeia do Ribatejo, e sou filho de uma geração mais velha do que a dos pais dos meus amigos. Estudei História e História da Arte, especializei-me no estudo do século XVIII, generalizei-me no estudo da História das Ideias. Cresci e fiquei de esquerda; numa biblioteca municipal tornei-me libertário. Sou independente e inesperadamente deputado no Parlamento Europeu. Escrevi alguns livros: O Pequeno Livro do Grande Terramoto, de história; a peça de teatro O Arquiteto; em breve, será publicado o ensaio A Ironia do Projeto Europeu. Descobri nos últimos esforçados minutos que é fácil escrever sobre si mesmo na terceira pessoa, mas na primeira pessoa só sobre outras coisas, e espero que esta curta biografia fique bastante escondida no site do jornal Público, que é o meu jornal preferido, no qual escrevo crónicas regulares há quase sete anos. 

 Já está perdida a UE? Durante meses só se falava da possibilidade de a extrema-direita ganhar na Áustria e de como isso faria soar o dobre de finados da UE. Para os fãs da desgraça até houve o frisson adicional de os fascistas terem três hipóteses de ganhar estas eleições: na primeira volta, na segunda volta, e numa repetição que se deu por se considerar que a margem da sua anterior derrota teria sido demasiado para que não limpasse todas as dúvidas. Ontem, pelo menos estas eleições ficaram resolvidas de vez: a extrema-direita regrediu significativamente em relação à votação anterior do seu candidato, Norbert Hofer. O que é estranho nestas eleições é só se falar do derrotado. Então e o vencedor, Alexander Van der Bellen? Aquilo de que quase nunca se falou foi da possibilidade de pela primeira vez num país da UE haver um presidente da esquerda ecológica, libertária e cosmopolita. E foi essa possibilidade que se concretizou, agora por uma margem maior ainda do que nas últimas eleições frustradas na Áustria. 

A vitória de Alexander Van der Bellen não é só uma boa notícia porque a extrema-direita não ganhou. É uma boa notícia porque ganhou a esquerda que é diametralmente oposta à extrema-direita. Não uma esquerda centrista e acomodada. Não uma esquerda fechada, nacionalista e simpática com o autoritarismo e a corrupção (desde que sejam “anti-imperialistas”). A esquerda de Alexander Van der Bellen é a que defende que todos somos cidadãos do mundo, que todos temos uma responsabilidade perante o planeta, que todos temos de ser fiéis sem concessões no respeito pelos direitos humanos, que os nossos estados têm uma obrigação de receber refugiados (o próprio Van der Bellen é filho de refugiados), que há vida para lá do estado-nação e, por fim, que a construção de um projeto europeu democrático e de uma política mundial em que os cidadãos (e não só os governos e as multinacionais) tenham voz são as únicas maneiras de regular a globalização de maneira a que ela beneficie toda a gente e todo o planeta. São estes os valores que quando corajosa e integralmente defendidos conquistam maiorias. A extrema-direita teria provavelmente conquistado o poder contra um candidato do sistema. E se a ela se opusesse um candidato de um suposto anti-sistema que no fundo concordasse com a extrema-direita nas simpatias por Putin e no fechamento de fronteiras, pouca diferença faria. Mas quando a extrema-direita é colocada perante adversários de princípios e valores assumidamente opostos, a escolha fica clara: autoritarismo ou liberdade, regressão ou progresso, passado fascista ou futuro democrático, xenofobia ou cosmopolitismo, uma Europa unida, sem fronteiras e com um papel no mundo ou uma mera coleção de países com medo do vizinho, desconfiança do estrangeiro e cada vez mais irrelevantes.
Nos tempos que correm, à distinção clássica entre esquerda e direita não há apenas que acrescentar a segunda distinção essencial entre libertários e autoritários. A crise ecológica, a tragédia dos refugiados e uma globalização desregrada e nas mãos dos mais poderosos trazem para a ribalta uma terceira distinção essencial: nacionalismo ou cosmopolitismo. Nacionalismo significa achar que o mundo se organiza por compartimentos estanques e que cada um deles, democrático ou não, impõe a ordem no seu quinhão. Cosmopolitismo significa achar que além de cidadãos da nossa cidade, da nossa região e do nosso país, temos direitos e deveres como cidadãos do nosso continente e do nosso mundo. O que os austríacos demonstraram ontem é que ser nacionalista não é ser patriota. Pelo contrário. Os cidadãos do mundo não são apenas os melhores guardiões do planeta e os melhores defensores da nossa humanidade comum como — de forma crucial — os melhores patriotas para o seu país.


Matteo Renzi em Itália não precisava de se demitir pela escolha democrática a uma alteração constitucional que propôs, é sinal que acreditava mesmo na alteração e assim vai afirmar-se numas novas eleições!

04 dezembro 2016

Eu, Daniel Blake



I, Daniel Blake é um filme britânico-franco-belga do género drama, realizado por Ken Loach e escrito por Paul Laverty. Fez sua estreia mundial no Festival de Cannes a 13 de maio de 2016, onde ganhou a Palma de Ouro.

Daniel Blake é um carpinteiro de cinquenta e nove anos de idade no Nordeste da Inglaterra, que sofre um ataque cardíaco e necessita do benefício do Subsídio de Emprego e Apoio (Employment and Support Allowance). Enquanto ele se esforça para superar a burocracia necessária para obter esta ajuda, conhece então Katie, uma mãe solteira e seus dois filhos Dylan e Daisy, que para evitar que morem num albergue de pessoas desabrigadas em Londres, terá que mudar-se para um alojamento a mais de quatrocentos e oitenta quilómetros de distância da sua terra natal.

Dá vontade de mudar para melhorar: este mundo parece desajustado... nunca houve tanto apoio nem tanta gente a poder (mais literados que nunca...) expressar-se contra 'a sociedade'; por outro lado, há dificuldade em viver com tempo para aproveitar o privilégio de estar vivo!

Respirar, inspirar, expirar... apreciar estar vivo!

Sempre existirá gerações velhas que sentem que está tudo pior e a perder-se e novas a achar que pensam melhor nisto da vida do que no tempo todo passado: o Ser Humano é exigente, ainda bem!

dá vida! ajuda a viver melhor!!!



(Discurso de Steve Jobs em Stanford)

02 dezembro 2016

Dezembro chega :)




Não conhecia e é brilhante como eles conseguem jogar actuação calma com os trajes extrovertidos, deve ser difícil manterem a pose/postura.

Gosto da calma e serenidade que espalha!!!

30 novembro 2016

teoria do amor






Um amigo meu que já morreu tinha uma teoria que quero passar: a teoria do Amor!
Dizia ele que não importa sexo, raça, idade, classe social; a todas as pessoas podemos amar se quisermos, basta permitir-nos e o amor vai-se propagando e quanto mais amares mais Amor tens.

Talvez não seja tão fácil como isso, como parece mas é um bom objectivo passar Amor: quanto mais amor passas mais Amor recebes!

28 novembro 2016

aproveita quem és e faz-te melhor!!!!!!!

 

A vida está aí para ser vivida e tens todas as qualidades para retirar sorrisos dela! 

Pensa no teu passado sem ficares nele e transpores presentes e futuros: é forte né!?

Não existe o tal lugar mágico que procuras, um Emprego, aproveita e tira o máximo do que tens.

Sê melhor nisso, no exercício de estar vivo.

Hoje melhor que ontem e pior que amanhã.

Pensa na vida não como um direito mas como um privilégio: e na magia de existires inspira e expira.

Escreve e observa, inventa mundos e pessoas!

Descobre sons, formas e tons em cada olhar e espaço.

Engrandece, desperta e alegra quem te rodeia.


Aprenda a viver
Descanse quando morrer
Tudo que você precisa está dentro de você 


(gabriel o pensador) dentro de você

24 novembro 2016

HOJE é um dia tranquilo!!!



antes de pensares vem o pré conceito...




              Na sala de cinema no escuro que antecede o filme, quando dão os trailers, vem uma menina fardada falar connosco:

- os senhores desculpem mas numa próxima vez vamos pedir que não utilizem uma cadeira 'destas' e utilize a sua cadeira de rodas no espaço indicado, na zona da frente da sala, por favor; usamos todas as semanas os mais variados cinemas e nunca a questão se pôs do lugar pago não ser escolhido por nós.

              No comboio intercidades Aveiro Lisboa pedimos ao revisor de apoio um olhar aquando da saída de Tripé em Santa Apolónia:

- Eticamente, o senhor nem deveria estar aqui; tem o Alfa Pendular onde por mais 3 euros tem muito mais espaço para utilizar a cadeira de rodas e tem uma WC preparada para vosso uso; no outro dia veio um tipo como o senhor que não quis utilizar o que a CP pôs à vossa disposição e cagou-se todo em frente a toda a gente; fiz o dito trajecto semanalmente e, Eticamente, nunca me apareceu tão estranha maneira de cumprir o seu cuidado, trabalho pago por nós utentes mesmo pelos que não cheiram mal do rabo.

21 novembro 2016

pensadura




Reflecte sobre a forma como a representação da biografia condiciona a própria construção da memória e da identidade.

                                                             representação 
                                                        
                                                                     da 

                                                                biografia


                                                                condiciona


                                                          construção memória
              
                                                                         +

                                                           construção identidade

09 novembro 2016

TRUMPada





quatro anos? pois...

A América do faroeste voltou!

como não se notou (!?) mudanças assim tão importantes para o bem com Obama não se notará (!?) para o mal com este fanfarrão: perdemos é em postura, elegância e personalidade.

O Sistema político posto em causa: os eleitores deste menino queriam um abanão e Hillary faz parte do sistema, vamos perceber que mudanças terá com este... Idiota!

O mundo vai mudar mas digamos que não precisava de mudar do 8 ao 80!

04 novembro 2016

outros mares, outros olhares!



Rua de S.Bento de Vila do Conde 

“Esta rua é alegre.
Não é alegre uma rua anónima mas a rua de são bento em vila do conde vista por mim certa manhã após a chuva e o nevoeiro a dissipar-se já junto de santa clara
E no entanto não é a rua de são bento que é alegre Alegre sou eu.
E nem mesmo é que eu seja alegre.
Acontece simplesmente que me sirvo destas palavras numa manhã de chuva para falar falar por falar e não falar de mim ou de uma certa rua.
Não costumo por norma dizer o que sinto mas aproveitar o que sinto para dizer alguma coisa.
Isto, porém, são coisas que há já algum tempo se sabem e talvez venham aqui para salvar este momento para salvar romanticamente este momento ou então para ilustrar um pouco desta vida que se perde e não só ao viver-se mas ao pensar-se sobre ela ao atraiçoá-la tantas vezes como condição indispensável do poema.
Mas que dizia eu?
Dizia apenas "esta rua é alegre"
O mais é só comigo e com a subjectiva forma como passo a minha vida”


(Ruy Belo)

03 novembro 2016

uma conversa filosófica marcante

tudo começou numa conversa em 2000:

estavam dois rapazes a descansar à beira mar na P. das Maçãs, a fumar um ventil, o primeiro bate mais, depois de uma primeira viagem entre Coimbra e Lisboa com Rachmmaninoff e Dvorak como banda sonora.

começaram uma conversa filosófica: 'será o mar belo ou nós é que o vemos belo?'

é mesmo de quem não tem nada para fazer:
- primeiro, pensar nisso;
- depois, escrever  sobre isso 16 anos depois;
- por último, estar a ler isto agora;


o mar é sempre belo (é uma certeza que nos fez crescer...) quando (no inverno e à noite... no verão e ao sol, ao vento, sempre) e onde estiveres (no litoral ou no interior, no alto da serra ou na praia, em todo o lado), há coisa melhor do que aquela água toda junta a embater em ondas contínuas na areia?

tem muito a ver com a tua disposição, logo, muda-a se o queres ver ou imaginar bonito, a verdade é que ele pode ser sempre ser Belo.

Tu podes estar em baixo, estar chateado (e de que serve estar triste se o mar e a vida continuam a estrada? façamo-la divertida!) mas com a pressão da água virás acima.

Tem muito de poesia a vida.



Hoje ia começar a falar e interromperam-me antes de emitir qualquer som: 'não venhas com os teus moralismos!'

ou estou muito repetitivo ou: 'que pensas que ia dizer!? qual era o meu moralismo!?'

'hrumpf, que a vida é maravilhosa e não sei que mais...'

'já não sei o que ia a dizer mas acho fabuloso que me associem a esse tipo de moralismos...'


'quando chegar o amor não tens dúvidas'


Flores Silvestres


"O jornalismo trocou a grandeza da oferta pela tirania da procura" ( Luís Miguel Queirós 01/11/2016)


O volume de informação cresce a um ritmo imparável, mas a sua diversidade e fiabilidade podem estar a diminuir, defende o especialista em ciências da comunicação Dominique Wolton, que lança o alerta: “A informação está a ser comida por uma ideologia técnica, e é preciso resgatá-la”.


 
Fundador do Instituto de Ciências da Comunicação do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) e director da revista internacional Hermès e da respectiva colecção de livros de bolso, Les Essentiels d’Hermès, Dominique Wolton é autor de dezenas de obras sobre os media, o espaço público, a globalização, ou as relações entre ciência, técnica e sociedade. A mais recente, Communiquer c’est vivre, acaba de sair em França. Colaborador próximo do filósofo e politólogo Raymond Aron, Wolton vem construindo há décadas uma original teoria da comunicação, que procura opor uma abordagem democrática e humanista à hegemonia do discurso técnico e económico. Convidado do Fórum do Futuro – um “festival de pensamento”, organizado pelo pelouro da Cultura da Câmara do Porto que abre esta terça-feira com o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura –, o investigador estará esta quinta-feira no Teatro Rivoli (19h), para falar do “desafio de paz e guerra no século XXI”, e dará no dia seguinte uma palestra em Lisboa, no auditório do Instituto Superior de Economia e Gestão, sobre o “impacto das redes sociais na comunicação”. Diz que é preciso travar o fascínio acrítico pelas tecnologias da informação e defende que a Internet precisa de regras, pois “actualmente é um faroeste que só serve a tirania económica e financeira”.  


Diz que “a velocidade da Internet e das redes sociais está a devorar a liberdade de informação” e que o jornalismo não deveria mergulhar nessa voragem. Quer argumentar?

A Internet é óptima para nos exprimirmos, mas expressão não é informação, é algo muito mais fácil. Separar os dois é função do jornalista. Ele deve olhar para a Internet como um novo meio de expressão e ter consciência de que, enquanto canal de informação, exige um trabalho de verificação. A última coisa de que os jornalistas se podem esquecer é que a informação é algo de valioso e difícil, que deve ser feito por profissionais.


Defende que a revolução tecnológica aumentou o volume de informação, mas não a tornou mais diversa, nem reduziu os rumores, que encharcam a Internet e são frequentemente replicados nas televisões e jornais. É uma fatalidade, imposta pelo contexto técnico, ou haveria outro caminho?
Não é uma fatalidade. Na verdade, é até uma grande surpresa. Pertenço a uma tradição democrática favorável ao aumento da informação, e todos nós, investigadores, jornalistas, políticos, achávamos que mais informação era mais verdade: toda a luta pela liberdade de informação, desde o século XVII, foi concebida a partir dessa premissa. Mas ninguém antecipou que o aumento da velocidade e a pressão da concorrência implicavam riscos, e que a informação em directo, que julgávamos mais próxima da verdade, podia afinal errar muito, porque não há tempo para verificar. Também não se pensou que quanto mais informação existisse, tanto mais rumores teríamos, porque os homens são complicados e há muita gente que se está nas tintas para a informação verificada e prefere os rumores e as teorias da conspiração. Outra surpresa foi a constatação de que todos os canais de informação falam das mesmas coisas ao mesmo tempo e que a crescente concorrência entre eles não tem servido para alargar o campo da informação. Dou um exemplo: a construção política da Europa, esta realidade de 6, 8, 15, 28 países que se entenderam, quando na verdade se detestam, é talvez a maior utopia da história da humanidade, mas com toda a informação que hoje circula na Internet parece que já não há curiosidade por este grande projecto político.

E por que é que isso acontece?
Acontece porque a procura se tornou o critério. E quando nas redacções não se trata este ou aquele assunto porque não interessa às pessoas, está-se a trocar a responsabilidade da oferta, que é a grandeza do jornalismo, pela tirania da procura. Mas o mais grave é não existir um discurso crítico sobre isto. Estas são questões verdadeiras, que colocam problemas graves ao nível da deontologia, e até da democracia, mas só por as levantarmos somos vistos como reaccionários. Uma coisa que me deixa tristíssimo é ver os jornalistas a passarem horas na Internet, a darem a volta ao computador em vez de darem a volta ao mundo, quando fariam muito melhor em sair e investigar. É verdade que sair do jornal três ou quatro dias para investigar é caro, fazer bom jornalismo é caro, e essa é uma questão política que teremos de enfrentar, porque a informação está a ser comida por uma ideologia técnica, e é preciso resgatá-la.

Apesar das dificuldades que os jornais de referência ocidentais enfrentam para assegurar a sua viabilidade financeira, não parece partilhar o pessimismo mais ou menos consensual que não vê futuro para a imprensa generalista em papel e desespera de ver surgir, no jornalismo on-line, uma solução estável e replicável. O que é que o leva a manter o optimismo?
Não sou pessimista porque a história mostra que há altos e baixos, e acho que o jornalismo tomará consciência de que a abundância de informação não é por si só um progresso, e que o terreno que essa informação cobre é hoje mais estreito do que nos anos 80. Os media deixaram de se interessar por uma série de assuntos importantes, e cada vez dão menos espaço aos pontos de vista especializados – dos militares, religiosos, empresários, cientistas –, em favor dessa “peopleização” mundial a que estamos a assistir [neologismo criado a partir do inglês “people”, que significa “povo” ou “pessoas”, e que os media costumam usar para designar as suas secções de “celebridades”]. Há uma fascinação pelas tecnologias de informação que é preciso travar: não é a tecnologia que faz a informação, são os homens. Eu acho que o jornalismo acabará por reagir e saberá tirar desta revolução técnica o que ela tem de bom.

Uma das lutas da sua geração foi garantir a existência de uma fronteira nítida entre o domínio público e a esfera privada. Não receia que esta nova geração, que cresceu com as redes sociais, venha a ter uma consciência um pouco mais frágil dos riscos de se permitir que essa fronteira se esfarele?
Lutámos durante séculos até termos, enfim, o direito a uma existência privada, e agora, com as tecnologias de informação e com o fenómeno da "peopleização", passamos a vida a publicitar a vida privada. É um contra-senso. E se esta geração não percebe que é preciso preservar essa separação, isso é grave, porque essa fronteira foi um verdadeiro campo de batalha, e conseguir impô-la representou uma grande vitória política. Não é por hoje ser possível contar seja o que for nas redes sociais, e haver quem o leia, que devemos fazê-lo. Diante do computador temos uma sensação de liberdade, mas dever-nos-ia preocupar a contradição entre esse sentimento de liberdade e o facto de a Internet ser dominada pelo poder económico, financeiro e técnico do Google, da Apple, do Facebook, da Amazon.

No mundo das redes sociais vive-se uma espécie de igualitarismo, em que não há fronteiras nem hierarquias e todas as vozes têm o mesmo peso. Quando uma parte importante do debate público emigrou para esta arena digital, e a sua lógica contamina cada vez mais os media, está aberto o caminho ao populismo?
Sim, há o risco do populismo. Nas redes sociais toda a gente se exprime em condições de igualdade, o que é aparentemente democrático, mas, na verdade, ao abolir-se toda a hierarquia cultural ou intelectual, o que existe é uma tirania da expressão. O que há a fazer? É preciso que jornalistas, professores, empresários, políticos, tenham a coragem de dizer que este espaço de expressão é um progresso, mas que não substitui as competências do político, do militar, do cientista, do jornalista. O que eles têm a dizer sobre a sociedade não pode ser posto no mesmo plano do que eu digo sobre mim próprio num qualquer canto do planeta.

Não é impossível que o aproveitamento da Internet pelo terrorismo e pelo crime organizado, entre outras ameaças, leve as democracias a ponderar colocar restrições à sua utilização, como já acontece, por outros motivos, em várias ditaduras. Parece-lhe defensável?
Este novo espaço de expressão e informação que é a Internet precisa de uma política, no mesmo sentido em que há uma política para as telecomunicações, os satélites, a imprensa ou a televisão, com coisas que são permitidas e outras que não o são. Neste momento, a Internet não tem regras nem limites. É claro que se deve salvaguardar essa dimensão de liberdade e de emancipação, mas com a condição de se criar uma política. A grande batalha futura em relação à Internet não é obviamente acabar com ela, mas estabelecer regras e leis. Actualmente é um faroeste que só serve a tirania económica e financeira. Há uma mentira sempre repetida: a que diz que se aplicarmos uma lei à Internet é o fim da liberdade. Na verdade, é o inverso: é a lei que permite a liberdade, que protege o fraco, sem ela temos a lei do mais forte, e o mais forte é hoje o poder financeiro. Falamos da Internet como símbolo de liberdade, quando ela está ligada aos grandes poderes imperiais do século XXI: Google, Apple, Facebook, Amazon. É uma contradição que se pode resolver, desde que se aceite que o progresso técnico é óptimo, mas que agora é preciso introduzir regras sociais, políticas, culturais.

Tem insistido na distinção entre informação, que designa a mensagem, e comunicação, que implica uma relação e uma negociação. Pensa que a revolução global da informação teve tradução no plano da comunicação, que os povos e culturas do mundo se compreendem e toleram hoje mais do que no passado recente?
Uma das grandes fraquezas da humanidade é que adoramos matar-nos, detestar-nos e não nos compreendermos uns aos outros. Seria de esperar que todas essas redes de informação tivessem aumentado a tolerância, mas não é verdade: o racismo e o ódio ao outro estão de boa saúde. Basta olhar para a Europa e para o que se passa com os refugiados no Mediterrâneo. Temos uma aldeia global, mas que é apenas técnica, e essa tecnologia, ao tornar mais visíveis as diferenças culturais, não só não está a promover a tolerância, como se arrisca a provocar mais intolerância. É um paradoxo incrível, mas verdadeiro.

02 novembro 2016

laranja acinzentado




subindo a estrada no sentido contrário ao mar encontrava os tons habituais que falavam de vidas passadas e outros novos que apetece experimentar.

é bom mostrar como quem visita pela primeira vez, descobre-se cantos e descobre-se gostos habituais e rotinados; reaprende-se a gostar do nosso espaço

há muito verde.

há muita vida.

muita natureza.

muitas casas apalaçadas de um tempo em que se fugia do calor citadino para o fresco da serra e do mar.

muita gente por ali passeia/visita.

os nossos olhares fazem AAAAHH espantados, gritam arquitecturas bem inscritas não de hoje antigas.

voltámos pelas curvas serrestres.

30 outubro 2016

serenidade de a equação não fazer sentido...

Carta aos futuros pais (e a quem não quer ter filhos)

Coloquem o "cinto" e preparem-se para algo completamente diferente. Vão sofrer e divertir-se como nunca.

— Que barriga grande! Está grávida de quanto tempo?
 
— 34 semanas. Está quase a nascer (meses mais tarde)

— Ai, que bebé lindo! Que idade tem?

— Treze meses (semanas depois)

— Então, como está o menino?
 
— Vai andando. Tem muitas cólicas e faz uns cocós verdes. Mas já gatinha e diz tuato [gato].

Por que raio é que as grávidas (e os “pais-grávidos”) falam em semanas? E por que razão é que contam a idade dos bebés em meses? E que mau gosto falar das cores de cocós, mesmo que seja em conversas com amigos ou baixinho na esplanada. E que mania é esta de estarem sempre a falar dos filhos, a dizer que já anda ou a contar pela 35.ª vez a frase gira que o pequenote disse?

Eu — pecador me confesso — fazia estas perguntas antes de ser pai, olhando para aqueles “extraterrestres”  que contam a gravidez em semanas ou dizem a idade dos filhos em meses. Mas depois entrei nesse mundo magnífico e assustador e comecei a ver a minha vida guiada por ecografias às 12 e 24 semanas de gravidez, consultas médicas de mês a mês e vacinas aos seis, nove, 12, 15, 18 meses. Afinal não são loucos; têm é um calendário diferente dos outros.

Não ter filhos é, obviamente, uma opção tão legítima como ter — e espero ansiosamente pela altura em que a sociedade consiga abolir aquela pergunta muitas vezes feita com espanto “Mas por que não queres ter filhos?”  “Porque não quero”, dirão muitos (e com todo o direito). Eu preferi ter e agora aqui estou só para vos dizer algumas coisas que gostava que me tivessem dito antes de ser pai. Não que isso mudasse a minha decisão, mas teria ajudado a que o choque fosse um pouco mais suave.

É claro que cada um tem as suas circunstâncias (a rede familiar, por exemplo, pode fazer muita diferença), a sua personalidade e há bebés mais difíceis do que outros. A Susana Almeida Ribeiro escreveu há tempos no P3 uma hilariante crónica sobre a diferença entre as pessoas com filhos e sem filhos. Escrevia ela que “as pessoas sem filhos acordam com o despertador” e “as pessoas com filhos gostariam de acordar com o despertador”. É apenas uma das muitas boas frases escritas nessa crónica que também deu para perceber —  nas caixas dos comentários — como a maternidade/paternidade pode afectar o sentido de humor de algumas pessoas, nomeadamente a incapacidade para a ironia.

Não é mentira nenhuma dizer-vos que vão perder o controlo de uma parte da vossa vida. Durante uma certa fase da vossa vida, sair à noite é ir pôr o lixo à rua. Ou ir à farmácia implorar ao farmacêutico por uma receita milagrosa para acabar com as cólicas que nos estão a deixar perto da loucura.

Vão discutir menos vezes política e futebol e mais se é melhor usar chupeta ou chuchar no dedo. Vão descobrir que a Linha de Saúde 24 é a melhor amiga que se pode ter às quatro da manhã. E estarão prontos a escrever uma tese sobre a eficácia da tortura de sono ou sobre os limites da paciência humana para lidar com choros ou pratos de comida voadores.

Quer isto dizer que ter filhos é horrível? Sou capaz de ter respondido que sim em algumas noites (era o sono), mas a verdade é que não. Não é horrível. É fantástico e assustador ao mesmo tempo.  A dose de sofrimento é largamente compensada por momentos tão lamechas quanto verdadeiros. Há pequenos gestos que nos dão mais energia do que muitas noites de sono: aquele sorrisinho maroto, as pequenas conquistas deles (os primeiros passos, as palavras, o salto aventureiro no escorrega), o abraço apertado quando regressam para os nossos braços depois da escola ou até aquela resposta espontânea que nos deixa entre o ralhete e a gargalhada.

No dia em que fui pai, a minha vida mudou radicalmente. Deu uma volta de 180º, e outra de 360.º e mais outra de 360.º e sei lá o que mais. Atarantado, fui parar a um lugar diferente. O lugar de que tem a missão mais importante da vida: criar aquele bebé, educá-lo, fazê-lo feliz. E nem dois minutos depois de ele nascer percebi finalmente por que razão as mães nunca aceitam a resposta dos filhos: “mãe, não te preocupes”. É impossível. Nem mesmo para o meu coração de optimista, que fica mais apertadinho com aquelas noites na incubadora, a febre que não baixa ou a bronquiolite que não passa.
Por isso, para os que não querem ter filhos, só vos digo: “Nem imaginam do que se livram, nem sabem o que perdem”. E aos que querem ter também vos digo: “Apertem os cintos. Vão sofrer e irritar-se como nunca, mas vão rir e amar como nunca pensaram ser possível”. E, acima de tudo, aproveitem, porque eles crescem a uma velocidade supersónica...

26 outubro 2016

ah Mulher!!!

É difícil no meio do chavascal/ruído que a Trumpa fez/criou à sua volta darmos atenção e ouvirmos o que interessa, o mundo na América está a dar um passo importante: uma Mulher (género maioritário em quantidade/qualidade em cada família) após um negro afirma a Humanidade

A nova vida do progressismo americano


Saint Paul, Minnesota, EUA. — A diferença que um mês faz. No fim de setembro, antes do primeiro debate presidencial americano, todas as tendências pareciam favorecer Donald Trump. Os americanos, sobretudo os progressistas, começavam a habituar-se à ideia de ver Presidente Trump na Casa Branca. Tinham de engolir em seco e esfregar os olhos para terem a certeza do que estavam a ver mas, se fossem justos, a projeção de força do candidato republicano, aliada ao entusiasmo que ele gerava entre os conservadores e ao estilo convencional de Clinton, era matéria mais do que suficiente para concluir: este não são os nossos tempos. A mesma vaga reacionária que já varreu vários países vai chegar aqui.
Hoje a situação é muito diferente. Claro que a gravação mostrando um Trump agressor sexual teve o seu impacto e nos deixará para sempre com a questão: o que sucederia se nas eleições tivéssemos um Trump que fosse como este um pulha em tudo o que era público mas que não calhasse também ser um pulha em privado? Estaríamos a caminhar agora para um mundo insustentavelmente perigoso, em vez de só perigoso. Os americanos tiveram sorte, e nós com eles.
Ao mesmo tempo, sinto que as incidências mais debochadas da campanha não fazem jus ao extraordinário desempenho de Hillary Clinton. Ele ganhou três debates sendo aquilo que é: preparada, esforçada, estudiosa, dedicada. Estas são qualidades independentes da variável "ideologia" — Clinton continua a ser centrista, neoliberal e moderada, e está no seu direito. Ainda que eu não a acompanhe até essas paragens, não posso deixar de confessar que me impressionou o que já sabíamos dela, o domínio das políticas e o gosto de jogar pelo seguro, mas também o que é menos valorizado, que é por essa capacidade política ao serviço de qualidade empáticas. Isso tem impressionado também os seus potenciais eleitores, que pela primeira vez não sentem só repulsa pelo adversário mas entusiasmo por ela. A vitória de Clinton não será só a derrota de Trump.
Como é evidente, a vitória também não será só de Clinton porque, ao contrário do one-man show republicano, o esforço democrata tem sido um jogo de equipa, que passa por Barack e Michelle Obama, Bill Clinton e Joe Biden, e cada vez mais pelos senadores progressistas Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
E agora chegou de novo a altura em que a esquerda americana esfrega os olhos e se belisca — mas porque não consegue acreditar na sua sorte. Os republicanos deram-lhes o que em termos de ciência política se chama "uma abébia" — e desta vez não veio sob a forma de Trump. Paul Ryan, o suposto representante do conservadorismo responsável no Congresso, quis alertar para o perigo dos democratas ganharem o senado perguntando à sua plateia: "se eles ganharem sabem que vai controlar o orçamento no Senado? Um tipo chamado Bernie Sanders". O tiro saiu pela culatra, com fragor.
Nada poderia galvanizar mais os jovens à esquerda do Partido Democrático, para quem agora é ponto de honra que nos próximos quatro anos um "socialista democrático" como Sanders tenha uma palavra decisiva sobre o orçamento dos EUA. Podem não ter conseguido levá-lo à Casa Branca, mas no sistema dos EUA isto não fica muito atrás.
E como o Senado também confirma a nomeação de juizes para o Supremo, há um velho sonho que pode vir a tornar-se realidade: a abolição da pena de morte.
Não, o progressismo ainda não mandou a toalha ao chão. Por aqui até parece ter uma nova vida.